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Emília 100 anos
Gibi do acervo pessoal do autor do blog

100 anos de Emília, a Marquesa de Rabicó

Me lembro que foi na época de minha infância, na biblioteca da escola. Lá estava ela, na capa de um livro com o título Memórias da Emília. “É ela! A Emília do Sítio do Picapau Amarelo!”. Eu disse olhando pro livro. Eu assistia a série que ia ao ar na TV todas as tardes. Talvez, por causa de minha infância na roça, eu me identificava muito com os personagens de Monteiro Lobato, e sem dúvida, a Emília era a que mais me chamava a atenção, por sua rebeldia inquieta. Eu nem havia me tocado que ela já tem 100 anos de idade, até que me deparei com este Gibi em um site de financiamento coletivo. Sim, neste post quero falar desta obra que compila a visão de várias garotas artistas sensacionais e que fazem cada uma, sua releitura da pequena boneca de pano.

À esquerda ilustração "Emília 1930" por Jaqueline Santana - À direita quadrinhos por Denise Bueno.

Releituras com histórias atuais e reflexivas

Se tem uma coisa que o pessoal do Sidão deixou claro, é que esse negócio de releitura feita por gente talentosa dá mais que certo (as graphics MSP para quem não conhece). Aqui, ao todo, são mais de 25 as artistas que dão vida à boneca de pano, cada uma delas com versão autêntica. As histórias são muito originais, atuais e emocionantes. Me vi preso no gibi, refletindo sobre valores como diversidade, cuidado, lealdade, laços familiares, mudanças e também afetividade. É o tipo de leitura que você pega e quer logo terminar, pois a cada página você se prende cada vez mais.

À esquerda quadrinhos por Denise Bueno - À direita ilustração "Emília 1940" por Alice Monstrinho.

Traços que dão autenticidade a cada história

Para uma pessoa como eu, que sempre fui apreciador de artes desde a infância, é impossível não me atentar aos traços, cores e arte final das histórias em quadrinhos. Esta HQ tem um traço completamente distinto para cada história. Cada uma das quadrinistas tem uma pegada única. Tempos atrás eu diria que poderia gostar de um, não gostar de outro e ir de acordo com meu gosto pessoal. Porém, após me dedicar mais ao estudo da arte, hoje vejo com muito zelo a personalidade dos artistas e das artistas na expressão de seus traços, pinceladas ou letras. Esta obra tem uma diversidade muito grande no aspecto visual. Alguns traços bem marcantes, coloridos, sóbrios e até assustadores no caso do Bicho Papão. Creio que todas as artistas souberam expressar uma Emília bem madura. Provavelmente tenham lido muito os livros do Lobato, pois todas as histórias aqui, tem muito a ver com a bonequinha do sítio. Hoje percebo que Emília, talvez fosse aquela personagem que o autor criou para provocar e incomodar os leitores e tanto nos roteiros quanto nos traços vejo muito isso nessa obra comemorativa de seu centenário.

À esquerda "Emília 1960" por Giulia Felice - À direita quadrinhos de Melissa Garabeli

Uma boneca que renasce e se transforma na visão do leitor

O que mais gosto na arte é a subjetividade. A obra é concebida pelo autor e ele dá um significado a ela. Dá um motivo, uma forma, transmite uma mensagem e expõe para o mundo sua criação. A partir daí a obra já não pertence mais ao autor, e sim ao observador. Será aquilo que quem a observa quer que seja. Vejo isso aqui na Emília e isso fica bem aparente na história contada por Jakie Buchabiqui a qual ela dá o nome de “Quem Sou?!”. Nessa história, para a autora, Emília não é uma boneca de pano, e sim de papel. O legal é que a própria Emília sabe que é uma boneca de pano, mas se vê como uma boneca ilustrada e recortada no papel. Ela percebe que a verdadeira Emília é sua consciência em um corpo de papel, se recordando de seu corpo de pano. Percebe também que não pertence mais à Narizinho e sim a uma outra menina, em outra época. Essa história se refere à Memórias da Emília e nos faz refletir no que realmente somos. O que vem depois dessa nossa vida passageira? Com certeza somos nossas memórias. Talvez nada mais que isso. Tem também a história onde Emília, a Marquesa de Rabicó é uma guerreira destemida lutando contra o Bicho Papão para defender Narizinho enquando ela dorme. Essa história me lembra o livro Dom Quixote das Crianças, onde Dona Benta lê a história para as crianças. Se você ler o livro de Cervantes e ler esta história contada por Camila Raposa verá que Emília assume a figura do bravo cavaleiro da Triste Figura, Rabicó ocupa o cargo de seu fiel escudeiro Sancho Pança e o Bicho Papão talvez não passe de algum moinho de vento transfigurado em dragão. Simplesmente demais cada história.

À esquerda "Emília 1970" por Ana Flávia Cardoso - À direita quadrinhos de Ana Maria Sena

Muita qualidade no talento e no acabamento

E por fim não poderia deixar de elogiar o acabamento da HQ. Um papel de gramatura ideal, tanto para a capa quanto para as páginas. Toda colorida e com uma impressão de alta qualidade. Ótimo acabamento para dar suporte a tanto talento. A única coisa que senti falta foram mais informações sobre a obra mesmo. Como quem idealizou, como foi o convite para as artistas, falar mais um pouco sobre elas e o processo de elaboração do Gibi. No mais está tudo perfeito.

Me senti muito feliz em ter adquirido esta obra que a Script Editora lançou através do financiamento coletivo. Consegui por um preço bem em conta e com certeza essa fica para minha coleção. Vou ficando por aqui e espero voltar em breve com mais um comentário sobre outras obras. Estou ansioso para isso. Se gostou do conteúdo ou se também já leu sobre a Emília, deixe seu comentário abaixo. Obrigado pela leitura e até a próxima postagem.

Marcos Antônio
Webdesigner & Professor de Artes Visuais

 

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